domingo, 24 de janeiro de 2010

O pervertido





Morávamos numa favela, eu, minha mãe e cinco irmãos. Eu estava com dezenove anos e trabalhava numa padaria, o que me dava um salário mínimo para garantir o sustento da casa. Minha mãe estava com câncer, por isso não podia trabalhar, fazia tratamento no Hospital das Clínicas e de vez em quando ficava por lá uns quinze dias fazendo quimioterapia. Eu não sei até quando, pois o caso dela era terminal, ia morrer muito em breve. Eu estava assustada, ia ficar sem apoio moral para cuidar de meus irmãos, bem ou mal, era minha mãe quem cuidava da casa, fazia comida, enquanto eu trabalhava. Meus irmãos eram na maioria mais jovens, um de cinco (juca), outra de seis (penélope), um de oito (jairo), outro de doze (jair) e a mais velha de dezoito anos (kátia). Eu me chamo Manuela, mas me conhecem por Manu e confesso que minha cabeça era de alguém mais velha, depois de tanta responsabilidade. Eu era inexperiente no sexo, ja havia tido um namorado, mas não chegamos a transar, eu era traumatizada com isso. Pensava que podia engravidar e acabar como minha mãe que engravidara tantas vezes por acreditar em romantismos bobos e confiar nos homens. Os meus irmãos mais novos eram de um homem que morrera há dois anos, um traficante que usou minha mãe o quanto pode, mas deixou de ajudar quando morreu num confronto com a polícia. Eu e minha irmã de 18 anos éramos filhas de um homem que abandonara minha mãe e desaparecera, eu nem lembrava de seu rosto, devia ser do mundo do crime também, minha mãe evitava falar sobre ele. Acho que no fundo ainda o amava, coitada...
Minha irmã abandonou do emprego de babá para cuidar dos nossos irmãos, agora que minha mãe adoecera. Eu só podia contar com ela.
-Mãe. Tem um homem querendo falar com a senhora.
Era juca que gritara à beira da porta do nosso barraco.
-Pois não...
-Eu sou Jonas. Tenho uma loja no centro da cidade. Gostaria de trocar duas palavrinhas com a senhora.
Ela o fez entrar. Conversaram durante um tempo e depois ouvi a batida forte na porta do quarto.
-Manu! Mamãe tá chamando você.
-To indo.
-Manu, venha...Esse senhor veio nos fazer uma proposta.
Estranho. Por que um homem bem vestido viria até nos com uma proposta. Eu sempre desconfiava das boas intenções das pessoas, achava que ninguém se importava com a miséria humana, só queriam se aproveitar.
-Como vai a senhorita? Ele estendeu a mão e eu fingi que não percebi. Sente-se por favor.
-Esse senhor quer pagar os estudos das crianças e nos dar uma ajuda com mantimentos todo o mês.
-Como assim?
-Isso mesmo que a senhorita ouviu. Eu gostaria de bancar as despesas de sua família.
-A troco de que?
-Calma minha filha. Venha cá um pouquinho. Puxou a filha para o quarto, sabia que tinha mau gênio e queria falar em particular.
-A troco de que mãe?
-Escute primeiro, depois você faz escândalos. Eu me acalmei e minha mãe continuou.
-Ele gostou de sua irmã. Quer levá-la para morar com ele. Em troca nos sustenta.
-Vai vender sua filha?
-Não fale assim. Você sabe que vou morrer. Depois, ele pode fazer sua irmã feliz. Bem melhor que aqui nessa vida miserável.
-Mãe! Acorde. Ela tem 18 anos e ele é um velho...Um tarado, é isso que ele é...E depois, se você morrer eu cuido da família. Nunca reclamei disso, reclamei?
-Eu sei querida. Não sei o que seria de mim sem você...Mas por isso mesmo, quem sabe não é a chance de todo mundo por aqui?
-Os remédios estão mexendo com sua cabeça, está louca...Não vou deixar isso acontecer. Eu boto ele pra correr daqui...
-Não. Não seja mal criada. Se não aceita, diga não apenas. Não seja mal educada.
Fui até a sala e não me controlei.
Olha aqui, seu velho tarado...Suma daqui antes que eu chame a polícia. Somos pobres, mas não somos burros. Fora! Tarado! Maldito tarado!
Ele saiu correndo. Tinha levado um susto. Eu nunca esqueci do seu olhar de ódio quando virou-se antes de dobrar a esquina. Ele me olhou por alguns segundos e desapareceu. "Maldito!" Eu queria mais que se ferrasse. Ninguém ia humilhar minha familia assim.
-Você é maluca! Não conhece o sujeito. Como pode? Se ele realmente for um louco? Agora sim que vai ficar atras de sua irmã.
-Não se preocupe. Eu tomo conta dela.
No dia seguinte fui até os caras que comandavam a favela e pedi pra falar com o chefão do morro.
-Ora, ora...Manu! Decidiu voltar atras e trabalhar com a gente? Ou finalmente percebeu que sou o melhor partido desse lugar?
Eu sempre desconversei quando ele me assediava, não queria envolvimento com crime, eu era pobre, mas nunca me meteria com nada ilícito.
-Não meu caro. Ainda prezo por minha liberdade. Disse rindo.
-Então o que quer?
-Teve um homem na minha casa ontem. Queria levar minha irmã. Um velho pervertido. Eu queria que você ficasse mais atento. Não diz que é dono do pedaço? Tome conta do seu morro então...Eu o botei pra correr, mas sabe, ele ficou com ódio. Acho que vai voltar.
Ele me fez descrever o cara e falou algo no ouvido do rapaz que estava ao lado.
-Tudo bem Manu. Vamos resolver isso. Mas tem uma coisa. Fica esperta lá na padaria que trabalha. Eu não mando por lá e para colocar segurança na sua cola ia querer algo em troca, se me entende...
-Não se preocupe. Eu cuido de mim mesma. Basta que fique de olho aqui na favela, minha irmã estuda e mora aqui e é com ela que me preocupo.
-Tudo bem, sua irmã está segura.Mas vai por mim, eu no lugar dele ia atras de você e não dela.
-Pode deixar. Eu me cuido.
Ele sorriu. No fundo admirava o meu jeito. Sempre tentou me namorar, mas eu sempre resisti. Não ia deixar minha vida pior do que já era. Sonhava em sair da favela e ser alguém na vida, juntamente com meus irmãos.
-Manu..espere. Era Jorge que me alcançou antes que eu saisse do seu beco.
-Pois não?
-Sem cerimônia, deixa disso...Preciso de um favor.
-Diga...
-Uma mão lava a outra. Eu protejo sua família, sem pedir nada em troca...
-Sei...Sempre tem uma coisa.
-Uma coisinha apenas, tenho certeza de que vale o esforço...
-Diga logo, o que quer?
-Olha...Eu sempre fui fissurado em você garota. Sei que nunca me deu bola e respeitei. Não quero um compromisso, nada disso. Quero você uma vez só.
-Sabia...


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Mmey

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