segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

XV - Síndrome de Estocolmo




Alícia era seu nome. Pele morena jambo, curvas fartas, olhos amendoados e cabelos compridos. Era considerada uma das mulheres mais bonitas da Universidade. Cursava o segundo ano de Farmácia e tinha paixão por borboletas. Tinha uma coleção que causava inveja em toda turma.

Andava pela calçada da avenida central com um velho livro nas mãos, era de biologia, odiava estudar em pé, mas tinha prova e precisava de vinte pontos ainda para passar. Distraída, não percebeu quando um furgão cinza parou bem ao seu lado e dele desceu um rapaz encapuzado.

-"Para dentro! Anda"- Empurrou a moça para o carro e tampou seu nariz com um lenço embebido em éter. Não viu mais nada.

Quando acordou ainda demorou uns minutos para lembrar do ocorrido. Estava confusa, não era rica, órfã criada por um tio na periferia, o que poderiam querer? Seria um engano?
Rezava que fosse, assim teria uma chance de escapar com vida, afinal não tinha visto o rosto de seu raptor. Olhou em volta e sentiu um arrepio na espinha.
O local era pequeno, um cômodo de uns dois metros quadrados, com vários monitores nas paredes, com se fosse um circuito integrado de câmaras, que fosse ligar a qualquer momento. O que veria neles? O seu raptor?

-Quem está aí? Gritou a moça...Nada. Chorou muito e minutos depois percebeu a cômoda no canto do quarto. Tinha uma bandeja de suco e frutas. Não ia tomar nada. Preferia morrer de fome e sede a arriscar beber alguma droga. Novamente um pensamento macabro veio à cabeça, e se fosse um psicopata? Tudo indicava que sim. Não deu tempo de mais nada e a porta abriu. Um homem alto, uns dois metros de altura, com capuz preto na cabeça e olhos vermelhos fixados no seu rosto.

-Melhor cooperar. Assim ninguém se machuca.

-O que quer de mim?

-Nada. Apenas que não me dê trabalho.

-Minha familia não tem dinheiro.

-Fique quieta. Chegou perto da cama e antes que conseguisse dizer uma palavra ela foi imobilizada e obrigada a cheirar novamente o lenço que trazia nas mãos.

Alícia acordou novamente e dessa vez os monitores estavam ligados. Era uma casa e cada tela exibia um cômodo. Em estilo clássico, com móveis em cerejeira e cortinas de rendas brancas. Quem a mobiliou era dotado de muito bom gosto. Por que uma pessoa assim a sequestraria? Na tela que mostrava a cozinha ela avistou um rapaz. Alto, cabelos pretos, vestindo um terno de linho cinza claro. De alguma forma ele percebeu que ela o observava, pois sorriu para ela. -Bom dia Alícia. Deveria ter sistema de som, pois ela o ouvia perfeitamente.

-Quem é você?

-Está com fome?

-Por que me prendeu aqui?


-Presa? Está enganada. Venha até aqui. Veja a sua esquerda.

Alicia olhou para o lado e percebeu que a porta estava aberta. Saiu devagar, estava apavorada, sabia que nesses casos o psicopata gostava de torturar suas vítimas e ficou apreensiva.
Atravessou um amplo corredor e abriu uma das portas a sua direita, eram três. Era um banheiro enorme, todo em mármore, realmente o dono dessa casa tinha muita grana.

-Desça a escada no fim do corredor.

Mais uma vez ela ouvia a voz do rapaz que viu no monitor.
Foi até a escada e desceu até uma ampla sala. Ele a esperava com um copo de uisque nas mãos.

-Bebe?


-Não. Eu quero explicações. Quem é você?


-Venha. Deve estar com fome. Façamos um trato, comemos e depois respondo a sua pergunta. Venha. Puxou a moça pelo braço na direção da cozinha. Alícia ficou com as pernas bambas só de sentir sua mão pressionando seu braço.

Era uma situação horrível. Temia que não aguentasse. Mas tinha que se segurar,ouvira falar de casos em que a vítima se revoltou e acabou perdendo a vida.


-Sente-se. Ele serviu-lhe filé com batatas e um copo de vinho branco.

-Não quero beber.


-Não seja boba. Beba. Almoçaram e ele a conduziu até uma sala no terceiro piso.

Era uma casa muito grande e as janelas estavam estrategicamente fechadas, como se ele tivesse pensado nos mínimos detalhes para que a moça não identificasse a localização. Era um bom sinal, mostrava que ele não ia lhe matar, ela repetia isso para si mesma, numa forma de se acalmar, mesmo que no íntimo pensasse o contrário. Droga! Ele mostrou o rosto...Ela o identificaria no futuro.


-Qual era a sua pergunta mesmo?


-Quem é você? Por que me sequestrou? O que pretende fazer...


-Calma. Era uma única pergunta. Ele falou em tom autoritário.


-Vai me matar?


-Quem eu sou não importa, eu não sequestrei você, digamos que você está me fazendo um favor e o que pretendo fazer...Não sei ainda.


-Vai me matar?


-Façamos o seguinte: Eu prometo que não mato você, mas quero algo em troca.


-Por favor, não me machuque...


-Calma, eu não disse que não mato você?


-O que quer?

-Você fica aqui, como minha convidada durante cinco dias, sem fazer perguntas ou tentar escapar...No sexto dia eu solto você.


-Como? Por que?


-Sem perguntas.


-Quem me garante que não vai me matar?

-Eu dou minha palavra. Não parece muito, mas no momento é só o que posso dizer.

-Cinco dias?

-Sem tentar nada. Eu abro até as janelas. Se tentar escapar, estupro você e depois te mato.


Alícia viu os seus olhos ficarem vermelhos e por um segundo teve a certeza de que era louco. Tremia como nunca. Ele pegou sua mão e ela puxou de volta imediatamente.


-Ora, vamos. Não vou te machucar. Basta você se comportar e serei um cavalheiro. Prometo.

Nos dias que se seguiram ele se mostrou muito educado. Não esquecia nada, jantares, conversas ao pé da lareira, vinho...No quarto dia ela já se sentia em casa. Tinha bebido demais e no dia seguinte não lembrava como foi parar no quarto. Tirou a colcha e percebeu que estava nua. Um frio percorreu sua espinha, será que ele tinha lhe tocado...Não tinha cheiro de sexo, mas estava nua.

-Não se preocupe, não fiz nada. Ele entrara no quarto de mansinho e viu a dúvida em seus olhos.

-Estou sem roupas...


-Você bebeu demais, vomitou e eu limpei você. Foi só isso.


Por que não sentia medo dele? Ela estava excitada com a possibilidade dele a ter visto nua, de tê-la despido. Já ouvira falar de vítimas que se apaixonavam por seus raptores, mas sempre foi da opinião que era um absurdo, jamais sentiria algo de bom por um louco assim. Então por que estava arrepiada, por que era tão difícil encará-lo? Ela estava perdida em seus pensamentos e não percebeu que ele a observava atento, sorrindo, como se pudesse ler seus pensamentos.

-Gostaria que eu tivesse transado com você enquanto dormia? Ele deu uma risada e ela fechou a cara.

-Deixe-me ir embora.


- Espero você lá embaixo. Vista-se. Saiu dando uma gargalhada. Não tocaram mais no assunto.

Passaram a tarde como dois amigos, falaram de tudo, do dia a dia. Ele parecia não se importar em contar detalhes de sua vida. Já fora casado, formou em Psicologia e atualmente estava no ramo imobiliário. Disse que herdara uma grande fortuna e por isso não tinha preocupações. Ou ele planejava matá-la ou era tudo mentira. A noite terminava e estavam ao pé da lareira.


-Alícia...Escutou o que eu disse? Seu pensamento está onde? Riu da distração da moça.


-Desculpe. Eu realmente estava longe. Você dizia...


-Eu perguntei se você sente atração por mim?


-Ora...Que pergunta.


-Eu vou refazer. Eu vejo que você sente atração por mim e eu sinto um desejo enorme por você também. Por que não aproveitamos isso?


-Está sugerindo...Ela estava muito excitada com o convite.

-Que a gente faça sexo. Por que não? Amanhã você vai embora e tudo volta a ser o que era na sua vida.


-Como assim...Acha que sou idiota?

-Não entendi.


-Você vai me matar, cara!

-Eu não dei minha palavra?


-Pare de tentar me seduzir. Eu sei o que me espera.


-Não vou insistir. Farei assim. Vamos dormir que já é tarde. Mas tem uma coisa que quero que saiba: Quero muito você. Ficarei no meu quarto com a porta aberta te esperando. Se mudar de idéia é só ir lá. As regras não mudaram. Prometo que será a noite mais inesquecível de sua vida e amanhã irá embora.
Ela estava muito confusa. A voz dele era afrodisíaca. Suas palavras eram de uma força incrível e ela lutava para não ceder, mas já sentia que seria impossível. Era duas horas da manhã quando entrou em seu quarto. Ele a esperava sorrindo.

-Venha...Puxou-a para a cama e começou a despi-la bem devagar. Tocava de leve sua barriga e começou a beijá-la carinhosamente dos pés a cabeça. Alícia estava entregue. Não importava mais o que aconteceria com ela, decidiu que ia ser feliz agora, ia ser dele como jamais fora de homem algum. Ela tinha tido um único relacionamento e não tinha boas lembranças. O namorado usava drogas e constantemente a deixava sozinha.

-Ei, ei...Agora estamos aqui, nada de pensamentos distantes. Quero você aqui de corpo e alma.
Ele começou a beijar sua barriga, descendo devagar até a virilha e Alicia não resistiu mais, logo sentiu a lingua quente em sua vagina e gozou alucinada. Ele esperou que ela terminasse seu êxtase e a virou de costas, Alícia tremeu de pavor. Já tinha ouvido falar de como era dolorido sexo anal e não queria passar por isso ainda.

-Não, assim não.


-Fique quieta. Ele a segurou com o peso de seu corpo e a acalmou.

-Eu não disse que terá a noite mais inesquecível de sua vida? Relaxe. Vou te ensinar muita coisa e não vai sentir dor, só prazer.
Estavam ali há menos de uma hora e ela já se sentia nas nuvens. Ele beijava suas costas, sua nuca, acariciava seu ânus com o indicador de uma forma tão lenta que ela desejou que a penetrasse. Ele deu um sorriso ao escutar seu gemido.

-Eu não disse? Que tesão você me dá garota, quero você assim...Tentou penetrar seu ânus com seu membro duro. Ela se assustou e tentou sair, mas ele foi firme, segurou seu corpo na cama e enfiou até o final. Ela sentiu uma dor alucinante.

-Agora relaxe. Vai se acostumar. Ficou colado na garota com o pênis em seu interior -Eu não mexo até você pedir. Beijou sua nuca e com uma das mãos acariciou o biquinho do seu seio. Com a outra mexeu em seu clitóris bem devagar.
Minutos depois ela cedeu e não se reconheceu quando pediu:

-Vai. Mexe, mexe assim, vai. Quero gozar assim. Foram juntos ao climax. Ela não sabia descrever a sensação. Ele era um amante de primeira, jamais imaginaria gozar com alguém dessa maneira. Amanheceram juntos na cama e Alícia chegou a sentir tristeza ao lembrar que iria embora.

-Vou fazer o café enquanto toma seu banho. Apresse-se, perdemos a hora. Ele foi seco.
Ela não entendia a frieza. Parecia que não tinham dormido juntos. Entrou na cozinha e ele falou:

-Coma depressa. Tenho dez minutos para levá-la.


-Vai me matar?

-Eu não disse que não a mataria? Você é muito teimosa. Anda mulher.
Sairam da casa e ele apontou para o lenço que segurava nas mãos. -Desculpe, mas preciso que durma. Ela tremeu. -Calma. É só eter. Como no começo, lembra-se?

-E ontem? Diga alguma coisa...


-O que tem ontem? O que quer? Que eu a peça em casamento? Deu uma gargalhada e apertou o lenço em seu nariz...Não viu mais nada.

Acordou sozinha no chão da garagem de sua casa.
Demorou alguns dias para entender o que havia acontecido. Ela trabalhava numa agência bancária e estava de férias. Houve um assalto no Banco enquanto estava sequestrada, foi no seu quinto dia de cativeiro. Parece que a mantinham presa enquanto planejavam os últimos acertos do golpe. Ela tinha acesso à tesouraria e tinha algumas senhas que lhes foram úteis no roubo.

-Tem certeza disso? Era Lucia, sua melhor amiga, a única pessoa na qual confiou o que tinha acontecido.

-Ora, eles pretendiam me usar para entrar lá. Eu trabalho na tesouraria, tenho acesso ao cofre e combinação.

-Mas por que não pressionaram você? Por que não lhe perguntaram nada?

-A minha velha mania de anotar tudo. Eu coloquei todas as senhas na agenda, inclusive a da minha conta bancária. Revistaram minha casa e encontraram minha agenda. Fui uma idiota. Facilitei tudo pra eles. Eu não a encontrei mais, está com eles.

-Que burrice...

-O pior você não sabe. Eles alugaram a casa onde fiquei presa por cinco dias em meu nome e usaram meu cartão de crédito. Um aluguel caríssimo.

-Merda! Alícia! Como foi cair nessa?

-O dinheiro das minhas férias vai todo para pagar a conta.

-E o cara? O gostosão...

-Nem me fale. Idiota. Foi a foda mais cara de toda a minha vida. E ainda corro o risco de ser acusada de cúmplice. Literalmente levei no rabo.

-Ora, ninguém sabe disso.A agenda não foi roubada?

-Sim. Mas eu preciso tomar cuidado. Vão me chamar para prestar declarações. Afinal, mesmo de férias eu trabalho lá.

-Simples. Diga que alugamos a casa para passar uns dias sossegadas. Não se preocupe, estou limpa e estive na fazenda esses dias. Vou ser seu álibe.

-Não sei não...

-Ora, aceite. A não ser que não queira ser vista como minha amante. Sabe que sou lésbica, vão achar que fomos namorar um pouquinho...

-Você não existe. Ok, eu aceito. Mas tem uma coisa.

-Diga.

-Você vai me ajudar. De hoje em diante vou viver para achar aquele crápula. Vai ter volta. Ah, isso vai...




Mmey

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